O ONZENEIRO
Eis um cristão que conservava algo de comum com os judeus: a sua paixão pelo capital. Era um usurário que enriquecera à custa dos altos juros do dinheiro, que emprestara aos necessitados – um antepassado dos nossos modernos penhoristas, a quem o Diabo chama, com toda a propriedade, seu “parente” [v. 183].
Eis um cristão que conservava algo de comum com os judeus: a sua paixão pelo capital. Era um usurário que enriquecera à custa dos altos juros do dinheiro, que emprestara aos necessitados – um antepassado dos nossos modernos penhoristas, a quem o Diabo chama, com toda a propriedade, seu “parente” [v. 183].
Apresenta-se no estrado com um bolsão que ocupa quase toda a barca. O Onzeneiro informa-nos que vai vazio, certamente porque não pudera trazer com ele os vinte e seis milhões de cruzados que deixou bem escondidos no fundo de uma arca. Mas é só neles que ele pensa e chega a rogar ao Diabo que o deixe voltar ao mundo para ir buscá-los. Mas ali, no espaço para além da vida, apresenta-se tão pobre que nem sequer dispõe de uma moeda para pagar ao barqueiro.
Mário Fiúza, op. cit.
O símbolo do Onzeneiro é um bolsão onde guardava o dinheiro. Significa ele a ambição, a avareza. Apresentamos um poema de Bocage que, pelo seu conteúdo, se intertextualiza bem com esta cena, sobretudo, pelo seu carácter satírico:
Velho avarento
Levando um velho avarento
Uma pedrada num olho,
Pôs-se-lhe no mesmo instante
Tamanho como um repolho.
Certo doutor, não das dúzias,
Mas sim médico perfeito,
Dez moedas lhe pedia
Para o livrar do defeito.
“Dez moedas! (diz o avaro)
Meu sangue não desperdiço
Dez moedas por um olho
O outro dou eu por isso.”
(extraído do manual escolar Com todas as letras - 9º ano, da Porto Editora)
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