sábado, 20 de novembro de 2010

Análise da cena "O ENFORCADO"


O ENFORCADO
Na derradeira parte do auto, aparece-nos um ladrão a quem a Justiça condenou à forca, ainda com o baraço em volta do pescoço, que vem convencido de que irá para o Céu. Quem o persuadiu? Gil Vicente afirma-nos que foi intrujado por Garcia Moniz, Mestre da Balança da Moeda de Lisboa,e, muito provavelmente, superior do poeta de 1513 a 1517. Este teria convencido o ladrão enforcado de que iria para o Paraíso, visto ter-se já purificado dos pec ados cometidos no purgatório do Limoeiro e que poder-se-ia considerar um “santo canonizado” por muito ter sofrido durante toda a sua vida.
Contudo, o Enforcado, desiludido pelo Diabo, reconhece finalmente que não tem perdão possível e, tal como já fizera o Judeu, nem sequer vai pedir ao Anjo que o acolha.
É nítida a intenção, da parte de Gil Vicente, de satirizar mais a doutrina do que o próprio ladrão enforcado. Enquanto não se apurarem mais dados biográficos sobre o Mestre da Balança da Moeda de Lisboa, esta cena permanecerá para nós um tanto ou quanto enigmática. O público do tempo, conhecedor de factos que desconhecemos, viu-a com olhos muito diferentes dos nossos.
Mário Fiúza, in op. cit.
 (extraído do manual escolar Com todas as letras - 9º ano, da Porto Editora)

Sem comentários:

Enviar um comentário