segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Plano dos Deuses

O  MARAVILHOSO

    Diferentemente de Virgílio e Homero, Camões separa completamente a esfera dos deuses e a esfera histórica desde o princípio ao fim da viagem e da missão de Vasco da Gama. Os homens e os deuses não se tocam. As intervenções de Baco ou de Vénus manifestam-se sob a forma de fenómenos naturais (tempestades, correntes), humanas
(conselheiros pérfidos, cristãos fingidos) ou de sonhos. É Vénus que salva o Gama numa tempestade, mas este não o sabe e agradece-o à Virgem. Camões seguiu com rigor metódico esta regra da separação do mundo maravilhoso e do mundo histórico de modo a 
poder afirmar a verdade histórica do seu poema.
    O Poeta não narra o regresso dos nautas a Lisboa (que segundo os cronistas foi acidentado). Com a partida de Calicute (IX, 16) pôs fim à narrativa histórica. A Ilha dos Amores não é um episódio do regresso: está fora da história, num plano puramente imaginário e simbólico. Os heróis encontram as deusas, casam com elas, tornando-se epopeia e dotados de atributos divinos. O tempo, o espaço, a história e a morte são abolidos.

                                 António José Saraiva, Luís de Camões - Os Lusíadas ( adaptado )
                                                    in Língua Portuguesa  -  9º ano, pág.274

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